Definir Relações Públicas é uma dificuldade para muitos profissionais. Afinal, é uma função que engloba diversos setores e áreas de atuação. Mas, buscando a informação direto na fonte, a descrição feita pela ABRP (Associação Brasileira de Relações Públicas) é a seguinte:
“Relações Públicas é a atividade e o esforço deliberado, planejado e contínuo para estabelecer e manter a compreensão mútua entre uma instituição pública ou privada e os grupos de pessoas a que esteja, direta ou indiretamente, ligada”.
Em resumo, o profissional de Relações Públicas (ou profissional de PR como é conhecido) é considerado um gestor da comunicação. É responsável por conectar as empresas aos seus públicos — que são diversos — e deve ter uma ampla visão do negócio para, então, traçar uma estratégia de comunicação a ser aplicada em cada ocasião.
Há dezenas de áreas nas quais são necessários estes profissionais como, por exemplo, planejamento, assessoria de imprensa, relacionamento, eventos, métricas, opinião pública, pesquisa, comportamento do consumidor, relações governamentais, comunicação interna, gestão de crises e tantas outras.
As principais bases para que um bom trabalho de Relações Públicas seja estabelecido são as organizações e os públicos. Isso parece muito simples, não é? Na verdade nem tanto, veja o porquê:
- As organizações podem ser descritas como um grupo de pessoas reunidas com um objetivo, seja ele uma empresa, um artista, partidos políticos ou o próprio governo;
- Já os públicos são todos os grupos de pessoas que têm algum vínculo com aquela organização. Podem ser clientes, funcionários, acionistas, investidores, grupos de pressão e outros.
Imagina o profissional que atua com uma grande empresa que, por alguma questão direta ou indireta, passa por uma gestão de crise e precisa reconstruir sua imagem perante todos os públicos. Não deve ser fácil, né? E mais: foi por essa necessidade que a profissão surgiu no mercado.
Como surgiram as Relações Públicas?
Estudos realizados por James Grunig, grande estudioso da área, apontam que as Relações Públicas surgiram há mais de 5 mil anos na aristocracia da China de forma rudimentar. Porém, a profissão existe, oficialmente, há cerca de 100 anos. O artigo “RELAÇÕES PÚBLICAS: História e Contextualização”, explica essa trajetória:
No final da década de 1860, John D. Rockefeller se torna um dos homens mais poderosos dos Estados Unidos por meio de sua companhia de petróleo, a Standard Oil Company.
Anos mais tarde, um fator em específico destrói a imagem de Rockefeller: O Massacre de Ludlow, mais conhecido como “greve da Colorado Fuel and Iron Co”. Vamos entender melhor essa história?
1902 – Tudo começou quando Rockefeller nomeia Jesse Welborn como presidente e LaMont Montgomery Bowers como vice-presidente de uma companhia adquirida no Colorado. E, como morava em Nova York, recebia as atualizações da empresa através de Bowers, em quem confiava.
1910 – Neste ano ocorreu um acidente em uma das minas de carvão, onde morreram 79 trabalhadores. O fato foi ocultado de Rockefeller por Bowers.
1910 a 1913 – Com o passar dos anos, a situação dos trabalhadores piorava e, em setembro de 1913, os moradores entraram em greve exigindo melhores condições de trabalho, melhores salários e redução da carga horária.
1914 – Como tentativa de acabar com a greve, Welborn e Bowers contratam uma agência de detetives para aterrorizar os grevistas, gerando uma guerra entre os contratados e os grevistas, causando diversos ataques sangrentos. Com isso, o massacre é veiculado pelas grandes mídias e gera uma crise com a opinião pública, destacando Rockefeller como um “capitalista sanguinário”, mesmo sem saber de antemão o que se passava por ali.
Rockefeller, com medo, não presta nenhum depoimento à opinião pública. Surge, então, o primeiro profissional de Relações Públicas.
Em maio de 1914, Rockefeller, preocupado com a imagem, pede indicação de um profissional a um amigo, que prontamente indica Ivy Ledbetter Lee, pois acredita que este seria o único profissional capaz de melhorar a imagem de John e sua família.
Ivy Lee era um jornalista de 36 anos, que já havia atuado em jornais em Nova York e trabalhado com políticos.
Após entender todo o contexto, sua primeira recomendação ao empresário foi “conte a verdade, porque mais cedo ou mais tarde, o público irá descobrir de qualquer jeito”. (CHERNOW, 1998:584). Em seguida, Lee fez com que Rockefeller parasse de andar com os guarda-costas.
Ambos viajam ao local do massacre, onde John pôde presenciar a realidade de seus trabalhadores, se desculpar e iniciar uma nova fase em sua empresa: a retomada dos valores humanos.
Todo o trabalho de Ivy Lee foi reconhecido e, hoje, é definido como o “pai das Relações Públicas”, capaz de mudar completamente a imagem de um homem odiado por todo o país.
As Relações Públicas no Brasil
No início do século XX, o Brasil passa pelo período inicial da República e se torna uma sociedade industrial. Com isso, no dia 30 de janeiro de 1914, surge o departamento de relações públicas na empresa canadense de eletricidade The São Paulo Tramway Light and Power Company Limited, a, também antiga, Eletricidade de São Paulo S.A (Eletropaulo), tendo à frente Eduardo Pinheiro Lobo, patrono na profissão no país.
Pinheiro Lobo atuou como militar na Inglaterra, onde se formou em Engenharia. Após seus estudos, retornou à São Paulo para iniciar sua carreira, atuando na Fábrica Penteado e, logo em seguida, na Companhia de Gás de São Paulo. Em 1906, por fim, inicia sua trajetória na ‘Light and Power’.
1914 – Somente neste ano a companhia identifica a necessidade de criar um relacionamento com a imprensa e com o governo. Por serem seus principais públicos-alvo, a área de relações públicas é criada para suprir essa demanda.
Apenas na década de 50 a área recebe a devida importância e passa a ser criada em outras companhias.
1952 – Surge a empresa pioneira em Relações Públicas e comunicação no Brasil, a Companhia Nacional de Relações Públicas e Propaganda.
1953 – Surge o primeiro curso de Relações Públicas, promovido pela Escola de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, sob o patrocínio da Organização das Nações Unidas”. (KUNSCH, 1997:20)
1954 – Um grupo de profissionais paulistas passou a se reunir para discutir o assunto e, deste movimento, surge a ABRP (Associação Brasileira de Relações Públicas) e, consequentemente, os primeiros especialistas, organizações e publicações na área. (KUNSCH, 1997:48).
1968 – Após o regime militar se estabelecer no poder, foi criada a AERP (Assessoria Especial de Relações Públicas), que era utilizada para fazer propagandas para o governo e trouxe uma visão negativa sobre a área perante a opinião pública, que seguiu assim por anos;
1980 – Ao fim do Regime Militar e de anos complicados para a profissão, toda a área da comunicação no Brasil passou por uma transformação, ganhando cada vez mais força e criando espaço para todo o cenário acadêmico e profissional que conhecemos atualmente.
Concluindo…
Muita coisa mudou e continuará mudando. A comunicação e, principalmente, as Relações Públicas evoluem à medida em que a sociedade evolui. Uma coisa é certa: é uma profissão necessária! Os profissionais de Relações Públicas sempre precisarão do objeto de trabalho mais valioso e complexo, os seres humanos, e, consequentemente, todos nós precisamos de um RP.